A Grande Biblioteca de Alexandria

writer: Daniel Matos

A tecnologia que nos permitiu explorar e habitar as mais remotas regiões da terra permite-nos agora explorar sair do nosso pequeno planeta, e nos aventurar no espaço. Quando saímos da terra observamos seu formato sólido esférico de dimensões erastonianas e os contornos de seus continentes, confirmando do que muitos cartógrafos antigos eram capazes. Imagine o que Eratóstenes e outros geógrafos de Alexandria pensariam se vissem as imagens que temos hoje, de nosso pequeno e pálido ponto azul, como dizia Carl Sagan.

Foi em Alexandria que, durante seiscentos anos a partir de 300 a.c, os seres humanos, em certo e importante sentido, começaram a aventura intelectual que nos trouxeram para a margem desse oceano cósmico. Infelizmente, o aspecto e o ambiente da mais bela e gloriosa, no sentido intelectual, cidade da antiguidade não pode mais ser contemplado. A opressão e o medo do conhecimento obliteraram a memória da antiga Alexandria. A diversidade da população de Alexandria era impressionante e maravilhosa. Soldados macedônios, romanos, sacerdotes egípicios, aristocratas gregos, marinheiros fenícios, mercadores judeus, visitantes da Índia e da África Subsaariana, todos, exeto a vasta população de escravos, viviam em harmonia e e em respeito mútuo durante a maior parte do tempo da grandeza de Alexandria.

A cidade foi fundada por Alexandre, o grande (sim, ele mesmo), e foi construída pelo seu ex guarda-costas. Alexandre estimulava o respeito por outras culturas e uma mente aberta na busca do conhecimento. Segunda a tradição ele desceu ao fundo do mar vermelho no primeira sino de mergulho do mundo, um instrumento para operações pesadas em rios e oceanos, ele também incentivava seus generais e soldados a casar com mulheres persas e indianas, respeitava os deuses de outras nações e coleteu formas de vida exóticas, incluindo um elefante para seus professor Aristóteles. (Sim Aristóteles dava aulas para Alexandre e eu também não sabia disso até o dia 19/04/2021)

Sua cidade, batizada em homenagem a seu nome, foi construída numa escala prodígia para ser o centro do comércio, da cultura e do conhecimento mundial. Foi agraciada com largas avenidas de trinta metros de largura, arquitetura e estatuária elegantes, o túmulo monumental de Alexandre e um enorme farol na ilha de Faros, uma das sete maravilhas do mundo antigo.

Mas, a verdadeira beleza de Alexandria era era sua biblioteca e seu museu, que era associado com a biblioteca. Dessa lendária biblioteca a maior parte do hoje sobrevive é seu anexo, o porão humido que tinha um templo e depois havia sido reconsagrado à ciência. Tirando algumas estantes desmoronadas, todo o resto se perdeu durante o grande incêndio e com o passar do tempo. Mas esse lugar já foi o maior palácio do conhecimento e a coroa e o cérebro da maior cidade do mundo, o primeiro real instituto de pesquisa do planeta.

Seus cientistas estudavam todo o cosmos. Cosmos é uma palavra grega que expressa a ordem de todo o universo. Implica uma interconexão com entre todas as coisas. Havia ali uma comunidade de eruditos, exploradores, físicos, matemáticos, engenheiros, literatura, medicina, astronomia, geografia, filosofia, biologia, e tudo mais. Era a maioridade do conhecimento. Gênios e mais gênios floresceram ali. A Biblioteca de Alexandria foi o local onde, pela primeira vez, humanos colheram, preservaram e expandiram, de maneira sistemática e séria, todo o conhecimento do mundo. Além do grande e famoso Eratóstenes, havia Hiparco que mapeou as constelações e fez uma estimativa da intensidade do brilho das estrelas, Euclides que é o pai da geometria, Dionísio de Tarsa que fez para a língua o que Euclides fez para a matemática, Herófilo que estabeleceu que o cérebro e não o coração era a fonte de inteligência, Heron de Alexandria que inventou as engrenagens e o motor a vapor e escreceu o livro Automata que foi o primeiro que fala sobre robôs, Apolônio de Perga matemático que demonstrou as seções cônicas elipse, parábola e hipérbole que mais tarde descobriu como sendo o movimento de rotação dos planetas, Arquimedes o maior gênio da engenharia da história que está no mesmo nível ou acima de Da Vinci, o astrônomo Ptolomeu que criou pseudociência da astrologia, mesmo sendo um gênio estava comprovadamente completamente errado. Entre todos esse homens havia a mulher Hipátia, uma matemática e astrônoma, cuja história está ligada a destruição da Biblioteca e que abordarei em outro artigo.

Os reis gregos do Egíto que se seguiram eram sérios no que tange o estudo. Durante séculos eles mantiveram a biblioteca funcionando e apoiavam a proliferação de gênios. A Grande Biblioteca continha dez salas para estudos, cada uma sobre um assunto diferente, fontes e colunatas, salas para dissecação,jardins botânicos, um jardim zoológico, um observatória e uma sala de jantes, onde havia, nas horas vagas, grandes debates sobre ideias.

O coração da biblioteca era seus livros. Seus organizadores passavam um baita de um pente-fino em todas as culturas e línguas. Eram enviados agentes ao estrangeiro com a única função de comprar, não livros, mas bibliotecas inteiras. Navios comerciais que atracavam em Alexandria eram obrigados a serem revistados para procurar livros ou cartas, ou qualquer coisa escrita. Assim que eles achavam, levavam os rolos por empréstimo, os copiavam e depois devolviam aos donos. A estimativa é de meio milhão de livros e escritos, todos em um rolo de papiro.

Infelizmente, a civilização clássica se deseintegrou, com a queda de Roma, e a biblioteca foi junto. Apenas poucos papeis restaram. Se você não se interessou até agora, preste atenção: Sabemos com certeza que existia um livro do astrônomo Aristarco de Samos, que alegava que a terra era um dos planetas, e que todos eles orbitavam o Sol, e que as estrelas estavam imensamente distantes. Tivemos que esperar 2 MIL ANOS para que se redescobrisse isso. Multiplique a tragédia dessa perda por 100 MIL, então você vai entender quão longe foi a civilização clássica, e como sua destruição foi trágica.

Já ultrapassamos a ciência do mundo antigo, mas existem lacunas que nunca vão ser reparadas no conhecimento. OLHA ISSO: sabemos que havia uma história do mundo em três volumes, escritas por um sacerdote babilônio, que contava desde A CRIAÇÃO ATÉ O DILÚVIO, período que durou, segundo o autor, aproximadamente 432 mil anos, cem vezes mais tempo do que o contado no Antigo Testamento. Todo esse período, está completamente perdido na história, assim como milhares de outras descobertas. 432 mil anos de história perdidas. Era como se, daqui a 200 anos, niguém conhecesse a história dos últimos 2 mil anos, só que nesse caso eram 432 mil anos. MANO DO CÉU

Os antigos sabiam muito bem que o mundo era antigo, bem antigo mesmo, eles tentavam enxergar o passado distante. Hoje sabemos que o cosmos é ainda mais antigo do que eles imaginavam. Bem antigo mesmo.

Depois de analisarmos o universo descobrimos que vivemos em um grão de poeira que circunda um prosaica estrela no mais remoto recôndito de uma galáxia obscura, ou seja, estamos na periferia de uma galáxia nãi importante nem brilhante. Também sabemos que o tempo que ocupamos o universo é muito, muito pequeno.

A estimativa é de 15 bilhões de anos desde a bola de fogo uniforme e radiante que enchia todo o espaço e todo o tempo começar a expandir, o evento conhecido como Big Bang, ou criação, até hoje.

Essa espetacular converção de energia é sem dúvida a mais impressionante que já existiu, o que quer que isso signifique. E nós, os seres humanos, mesmo vivendo em um local não importante, orbitanto uma estrela pequena e de meia-idade, na periferia de uma galáxia não importante, em uma vizinhança de galáxias não importante, somos a mais impressionante transformação existente. Somos de fato 1 em 1000000000000000000000000.

Veja uma ideia de como era a Bliblioteca abaixo:

Apenas uma vez, em nossa história pregressa, houve a promessa de uma brilhante civilização científica. Beneficiária do despertar jônico, ela tinha sua cidadela na Biblioteca de Alexandria, onde, 2 mil anos atrás, as melhores mentes da antiguidade estabeleceram os fundamentos do estudo sistemático da matemática, física, biologia, astronomia, literatura, geografia e medicina. Ela foi sustentada pelos Ptolomeu, os reis gregos que herdaram a porção agípicia do império de Alexandre, o grande. Desde a época de sua criação até sua destruição, durante sete séculos, Alexandria foi o cérebro e o coração do mundo antigo. Foi a capital das publicações do planeta, sem máquinas de impressão todos os livros eram caros e copiados à mão. O Antigo Testamento chegou até nós sobretudo das traduções para o grego feitas na Biblioteca de Alexandria. Os Ptolomeu dedicaram boa parte de sua fortuna à aquisição de cada livro grego, assim como obras vindas da África, Pérsia, Índia, Israel e todas as partes do mundo conhecido. Ptolomeu III quis tomar de empréstimo de Atenas os manuscritos originais dos exemplares oficiais, pertencentes ao Estado, das grandes e antigas tragédias de Sófocles, Ésquilo e Eurípides, tragédia é um rítimo musical. Para os atenienses, elas eram uma espécie de patrimônio cultura. Os gregos relutaram em deixar que os manuscritos saíssem de suas mãos mesmo por um momento; só depois que Ptolomeu garantiu seu retorno com o depósito de uma enorme quantia, eles concordaram em emprestar as peças. Mas Ptolomeu considerava os rolos mais valiosos que ouro ou prata, era como as obras de Shakespeare são consideradas na Inglaterra. Ele abriu mão do depósito e guardou, da melhor maneira que pôde, os originais na biblioteca como num santuário. Os atenienses, ultrajados, tiveram de se conformar apenas com as cópias que Ptolomeu, só um pouco envergonhado, lhes deu de presente. Raras vezes um Estado se dedicou com tanta avidez à busca do conhecimento.

Eles não apenas incentivarama busca do conhecimento já estabelecido, eles incentivaram e financiaram pesquisas científicas. Os resultados foram assombrosos. Além das coisas citadas a cima, Euclides produziu um compêndio sobre geometria com o qual humanos estudaram por 23 séculos, uma obra que ajudaria a despertar os interesses científicos em Kepler, Newton e Galileu. Galeno escreveu obras básicas sobre cura de doenças e anatomia, que dominaram a medicina até a Renascença. Entre muitos outros. Talvez a palavra Cosmopolita adquiriu seu verdadeiro significado lá, significa cidadão não de uma nação apenas mas de todo o Cosmos. Como citado anteriormente todos os povos viviam em paz. Ali estavam de fato as sementes do mundo moderno. Infelizmente, diferentemente da Europa na Renascença, essas bases ou sementes não germinaram. Por quê? Ficamos durante mil anos em um tempo de escuridão de conhecimento, como? Até onde sabemos nenhum dos cientistas desafiou as autoridades locais nem as desreipeitou. Eles questionavam a permanência das estrelas, mas não a escravidão. Infelizmente a ciência era reservada a uma elite, a maioria da população de Alexandria não tinha a mínima ideia das invenções que estavam sendo criadas naquela instituição de ensino. As descobertas científicas e mecânicas não eram utilizadas pela população comum, apenas pelos reis em seus planos de guerra e de conquista. Os cientistas não usaram o potencial das máquinas para libertar as pessoas. Quando a situação desmoronou não tinha ninguém para defender a biblioteca e os seus cientistas.

Hipática foi a última grande cientista da biblioteca. Ela era matemática, física, astrônoma, e líder da escola neoplatônica de filosofia. Numa época em que as mulheres eram tinham poucas opções e eram tratadas como prosperidade, Hipática se movimentava para todos os lugares sem vergonha. Era uma mulher de grande beleza e tinha muitos pretendentes, mas regeitou todas as propostas de casamento. A cidade vivia uma grande tensão na época. Era governada por Roma já a algum tempo. A escravidão era bem forte, a crescente igreja cristã romana estava aumentando muito. Hipática estava no centro de toda a queda de uma civilização. Cirilo, o arcebispo de Alexandria, a desprezava devido à estreita amizade que ela mantinha com o govenador romano e por ser um símbolo da ciência e do estudo, que a Igreja antiga identificava como um paganismo. Mesmo correndo grande perigo, continuou a ensinar e a publica, até que, noa no de 415, a caminho do trabalho, foi cercada por u bando de paroquianos fanáticos de Cirilo. Eles a tiraram da carruagem, rasgaram suas roupas e atacaram ela até arrancar seus ossos. Os restos mortais foram queimados, assim como suas obras e seu nome. Cirilo foi santificado. Pouco depois, foi a vez da grande biblioteca.

A perda foi incalculável, a maior parte das descobertas e obras da civilização clássica foi extinta do mapa. Em alguns casos conhecemos apenas os títulos das obras perdidas, na maioria dos cados não conhecemos nada. Das 123 peças de Sófocles que havia na biblioteca, apenas 7 sobreviveram. Números semelhantes se aplicam a Ésquilo e Eurípedes. É como se todas as obras de Shakespeare fossem queimadas restando apenas Coriolano e Conto de Inverno, enquanto todas as outras, bem melhores e mais conhecidas, fossem perdidas. Não restou um único rolo do conteúdo da biblioteca. A cidade hoje não tem nem a sombra do que era antes. Isso aonteceu em todo o mundo de uma vez só, esse foi o fim da civilização clássica. Das 40 mil gerações de humanos que vieram ates, conhecemos uma fração pequena. Se a biblioteca tivesse se mantido, teríamos histórias de muito mais nações que vieram antes, assim como muitas descobertas. Teríamos vários livros antigos como a Bíblia hoje, infelizmente não temos. Um exemplo é a cultura de Ebla, que não conhecemos. Apenas conhecemos pequenos gritos de nossos antigos, pequenos livros.

Fonte: Cosmos, Carl Sagan (livro e filme)

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