Pitagóricos

writer: Daniel Matos

(Para entender melhor seria bom ler o artigo dos Jônios

Pitágoras nasceu em Samos, era conteporâneo de Polícrates. Segundo a tradição local ele viveu por um tempo numa caverna no monte Kerkis. Foi a primeira pessoa que se tem notícia a deduzir que a Terra é uma esfera. Talvez porque tenha feito uma analogia com o Sol e a Lua, ou percebido que quando um navio deixa Samos seus mastros eram a última coisa a desaparecer, ou natado a sombra da curva da Terra durante um eclipse lunar.

Eles e seus dicípulos descobriram seu famosos teorema. Ele não apenas se contentou em acumular exemplos que comprovassem seu teorema, ele desenvolveu um método de dedução matemática para provar isso de maneira genérica. A tradução moderna do argumento matemático deve muito a ele. Pitágoras também foi a primeira pessoa a usar a palavra Cosmos para denotar um universo bem-ordenado e harmonioso. Os jônicos acreditavam que a harmonia subjacente ao universo seria acessível por meio da observação e experimentação, o que hoje é o método científico. Já ele achava que as leis da natureza podem ser deduzidas por pensamento puro. Seus seguidors não eram experimentadores, eram matemáticos místicos, Bertrand Russel os descreveram como uma religião da qual as premissas eram a transmigração das almas e a pecaminosidade que havia no ato de comer feijões. "Sua religião estava encarnada numa ordem religiosa, a qual, aqui e ali, adquiria o controle do Estado e estabelecia um governo de santos. Mas os não regenerados ansiavam por feijões, e cedo ou tarde se rebelavam". Os pitagóricos se deliciavam com a segurança que havia na demonstração matemática, o sentido do mundo puro e imaculado acessível ao intelecto humano. Eles acreditavam que tinham, com sua matemática dedutiva, vislumbrado uma realidade perfeita, um reino de deuses, do qual o mundo que nos é familiar não é mais do que um reflexo imperfeito. Isso é obvimente um alto contraste com o mundo real. Infelizmente, os pitagóricos exerceram grande influência no sistema de ensino desde sua época até o Renascimento, especificamente até pouco depois de Kepler.

Eles não advogavam im livre confronto entre pontos de vista conflitante, eles na verdade praticavam uma rigidez que os impedia de corrigir erros assim como impedia seus alunos de aprenderem. Eles eram fascinados pelos sólidos regulares, de um modo bem místico. Achavam que todos os 4 primeiros sólidos regulares se identificavam com os elementos, e por isso não gostavam do quinto, o dodecaedro, consideravam seu conhecimento perigoso. Inclusive a palavra quintessência vem daí.

Outra coisa interessante é que os pitagóricos eram fascinados por números inteiros, acreditavam que todos os números derivavam deles. Esse argumento foi quebrado quando descobriram a raiz quadrada de 2, um número irracional. A raiz de dois não pode ser expressa pela razão de nenhum outro número, e isso parecia algo assustador para os Pitagóricos, era um indício de que o mundo poderia não fazer sentido. Então, para "proteger" pessoas, esses conhecimentos foram obscurecidos. Também acreditavam que a órbita dos planetas era exatamente um círculo, perfeita sem minutos de erro. Isso por considerarem ser feita por materiais celestiais, que provem dos deuses. Se você leu o artigo do Kepler, com certeza percebeu a ligação entre o pensamento dos pitagóricos com o pensamento inicial de Kepler, ele era tão obscecado por uma órbita circular perfeita que demorou mais de um ano só para poder concertar sua antiga superstição.

Platão escreveu que os astrônomos devem pensar sobre os céus, e não perder seu tempos o observando, Aristóteles acreditava que humanos do tipo inferior nasciam para ser escravos e trabalhar com a mão, isso mostra o desprezo grego sobre o prático e o braçal, o oposto da tradição jônica. Plutarco e Xenofonte tinham opiniões iguais com a de Aristóteles. Por causa dessa atitude, o método experimental jônico foi abandonado até ser renascido 2 mil anos depois. Sem experimentação não tem como optar entre duas hipóteses conflitantes, não tem como a ciência avançar. Mas, de onde veio essa aversão à experimentação?

Uma explicação para o declínio da antiga ciência foi proposta pelo historiador de ciência Benjamin Farrington: a tradição mercantil, que levou à ciência jônica, levou também a uma economia escravista. A propriedade de escravos era o caminho do poder, Atenas tinha uma vasta população de escravos, as fortificações de Polícrates havia sido contruídas por escravos. Todo o mimimi de democracia em Atenas não existia na prática. O que caracteriza a atuação de escravos é o trabalho braçal, do qual, de preferência, os senhores de escravos devem manter distância, embora apenas os senhores de escavos - os gentleman - dispunham de tempo para fazer ciência. Logo, ninguém fazia ciência, no máximo especulava e se tornava um pitagórico. Já os jônios, estavam perfeitamente aptos para fazerem máquinas de certa elegância, mas com a economia de escravos, o incentivo economico para trabalhadores braçais despencou, assim como para o dsenvolvimento da tecnologia. Assim, a tradição mercantil contribuiu para o despertar jônico em 600 a.C., assim como a economia escravista e de preconceitos contra trabalhos braçais e experimentos, junto com uma centralização forte de pensamento, causou seu declínio dois séculos mais tarde. Infelizmente o mundo inteiro seguiu essa tendência, principalmente o Oriente. A China, com um grande legado de ciência também passou a se fechar cada vez mais, talvez a ciência também estava morta nas civilizações maias e astecas pelo mesmo motivo. O maior problema que persiste até hoje é que as classes mais intruídas tendem a ser constituídas de filhos ricos, com interesse no statos quo do país, logo, não tem desejo de mudar o meio de pensamento assim como o desenvolvimento da ciência. Platão e Aristóteles estavam confortáveis em uma sociedade escravista, serviam a tiranos, apresentavam explicações para a opressão, separavam a matéria da mente(bem comum em uma sociedade escravista), separaram a Terra dos céus, queimaram as obras de pessoas que não concordavam com sua cosmologia política, das 73 obras que Demócrito escreveu, não sobreviveu nem uma única palavra, queriam fazer o mesmo com Homero. Tudo o que conhecemos vem em fragmentos. Tudo isso foi apoiado pelos principais filósofos gregos, que apenas retrocederam o empreendimento humano.

Após um sono de centenas de anos, o método jônico de fazer ciência foram finalmente redescobertos e, em alguns casos, transmitidos pelos sábios da Biblioteca de Alexandria. O mundo Ocidental voltou a renascer. Finalmente a experimentação foi aberta, assim como a investigação, livros e fragmentos esquecidos foram lidos novamente, da Vinci, Copérnico, Colombo, Huygens e todos os outros foram inspirados por essa antiga tradição grega. Um dos últimos grandes cientistas jônios foi Aristarco. Em sua época, o centro intelectual do mundo estava na grande Biblioteca de alexandria, tinha acabado de se mudar. Aristarco foi o primeiro a afirmar que o Sol, e não a Terra, está no centro do Sistema Solar, e que todos os planetas giram em torno dele. Do tamanho da sombra da Terra na Lua durante um eclipse lunar, ele deduziu que o Sol tinha de ser muito maior do que a Terra e estar muito distante. Pode ter raciocinado então o absurdo de um corpo tão grande como o Sol orbitar um pequeno como a Terra. Não foi atoa que Galileu chamou Copérnico de "restaurador e confirmador" e não criador ou inventor. Por mais de 1800 anos, entre Aristarco e Copérnico, ninguém sabia qual era a verdadeira disposição entre os planetas, mesmo tendo sida apresentada com clareza por volta de 280 a.C. A ideia foi uma afronta e, assim como Anaxágoras, Giordano Bruno e Galileu, houve gritos exigindo que ele fosse condenado por impiedade. Nossa linguagem ainda mantém registros desse tempo. Dizemos "nascer do Sol", e "por do Sol", como se a Terra não girasse. Imagina como os gregos que ficaram revoltados com a ideia de que o Sol seria do tamanho do Penopolenso ficariam se soubessem o verdadeiro tamanho do Sol, assim como o verdadeiro tamanho do espaço.

Aristarco achava que as estrelas eram sóis distantes, mas mesmo ele ficaria impressionando com a distância de anos-luz. O cientista Huygens, muito calcado na tradição jônica, fez pequenos orifícios numa chapa de latão, ergueu a chapa contra o Sol e se perguntou qual orifício parecia mais com com o brilho que lembrava ter visto de Sirius na noite anterior. Assim Sirius, raciocinou ele, estava 28 mil vezes mais afastada de nós do que do Sol, por que o orifício tinha um efeito de 1/28000. É difícil lembrar o brilho de uma estrela pouco tempo depois de vê-la, mas ele se lembrou bem. Se soubesse que Sirius é mais brilhante que o Sol teria chegado numa conlclusão quase correta, 8,8 anos luz. Quanto mais longe, menor, porém as estrelas tem tamanhos diferentes e luzes diferentes. Tanto Huygens quanto Aristarco usaram dados imprecisos, isso só aumenta sua credibilidade.

No final das contas o grande legado de Aristarco, assim como de Huygens e de Kepler, é mostrar que os céus não são perfeitos, nem feitos de material celeste, são matéria raiz e bem humana. Seria interessante ver as contribuições dos jônicos nas questões políticas e sociais, elas foram as mais reprimidas, provavelmente não é uma conhecidência.

Harloow Shapleu desenvolveu um método para mapear a distância das estrelas, considerou um brilho pré-determinada e comparou com as outras estrelas. Ele conesguiu localizar os grandes aglomerados oculares e propós que a Terra estava nas margens, e não perto do núcleo, do Sistema Solar. Ele estava certo, vivemos em um dos braços afastados do centro, onde a densidade das esterlas é mais ou menos baixa. Imagine como seria os céus de um planeta no centro da Via Láctea, milhões, bilhões de estrelas a olho nu.

No século XVIII Thomas Wright, de Durban, e Immanuel Kant, o próprio, tiveram uma premonição de que primorosas formas luminosas em espiral, vistas por telescópios, eram outras galáxias. Kant sugeriu a que hoje é chamada M31. Ele concluiu que ela era composta por milhões de estrelas, e propôs chamar esses objetos pela evocativa e instigante expressão: "universos-ilha". Esse nome, infelizmente, não pegou. Descobriu-se que as estelas, as da M31, eram bem menos brilhantes , o que deixa a M31 a uma distância de 2 milhões de anos luz. Se ela estava de fato nessa distância, deveria ser mais que gigantesca, várias vezes maior que a Via Láctea para poder estar nessa distância. Hoje conhecemos umas 100 bilhões de galáxias, cada uma com trilhões de estrelas.

Sembre buscamos entender a composição do universo, sua extensão, e o nosso prórpio tamanho. Desde nosso primeiro ancestral, que observou as mesmas estrelas que observamos hoje, já descobrimos muito, muito mesmo, mas, mesmo assim, somente colocamos os pés no grande oceano a nossa frente, citando Newton. Estamos num canto esquecido do universo, no qual existem mais galáxias que gente. Desde Aristarco, cada passo em nossa busca nos levou além do palco central do drama cósmico. E os últimos passos foram dados bem rápido, existem pessoas que nasceram antes do Hubble, cientista, fazer suas descobertas. Embarcamos em nossa viagem cósmica com uma pergunta formulada pela primeira vez na infância de nossa espécie: O que são as estrelas? A exploração é de nossa natureza, assim como as grandes perguntas e a busca por grandes respostas. Passamos muito tempo nas praias, agora vamos zarpar para às estrelas do oceano cósmico.

Fonte: Cosmos(Carl Sagan)

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