Jônios e a aurora da ciência

writer: Daniel Matos

"Eu preferiria compreender uma causa a ser o rei da Pérsia" - Demócrito

"Se fosse feito um relato confiável das ideias do Homem sobre a Divindade, ele seria obrigado a reconhecer que, na maioria das vezes, a palavra "deuses" tem sido usada para expressar as coisas ocultas, remotas, desconhecidas dos efeitos que ele testemunhou; que ele aplica esse termo quando a fonte od que é natural, a origem de causas desconhecidas, deixa de ser visível: assim que perde o fio que leva essas causas, ou assim que sua mente não mais consegue seguir sua cadeia,ele resolve a dificuldade, encera a sua pesquisa, atribuindo-as a seus deuses [...]. Quando, portanto, ele atribui a seus deuses a produção de alguns fenômenos [...] ele de fato estaria fazendo algo mais do que substituir a escuridão de sua própria mente por um som o qual se acustumou a ouvir com reverente temor?" - barão Von Holbach

A natureza sempre foi um grande mistério para o homem. Na maioria das vezes ele usou de suas crenças para explicar o por que das coisas. Foram criados vários deuses, um para cada tarefa. Isso mudou na pequena ilha da Jônia.

Quase nada resta do Heraião, na ilha de Samos, no mar Egeu, uma das maravillhas do mundo antigo, com um grande templo dedicado a Hera, que teve uma carreira bem extensa, começando como deusa do céu. Ela era a divindade padroeira de Samos, assim como Atenas era em Atenas. Muito tempo depois ela se casou com Zeus, rei dos deuses do Olimpo, e teve uma lua de mel em Samos. A pequena luz branca que vemos no céu noturno, a Via Láctea, tem esse nome por causa da mitologia grega. Segundo a história é o resultado do leite derramado de Hera. Esse nome pegou e é usado até hoje em todo o mundo. Estrada do leite. Os seres humanos nem sequer buscavam uma explicação para as coisas, simplesmente colocavam como obra de um deus, sem tentar entender, compreender.

Mas, no século VI a.C., na Jônia, desenvolve-se um novo conceito, uma das grandes ideias de nossa espécie. Segundo eles, o universo é conhecível, ele demonstra ter uma ordenação interna: há regularidades na natureza que permitem que seus segredos sejam descobertos. A natureza não é de todo imprevisível, existem regras às quais até ela tem de obedecer. Esse caráter ordenado e adimirável do universo foi chamado Cosmos.

Mapa da região da Jônia Mapa da região da Jônia

Por que na Jônia? Por que nas peisagens despretensiosas e pastorais, nessas remotas ilhas e enseadas do Mediterrâneo oriental? Poderia ocorrer nas grandes cidades do império Índiano, ou Chinês. Babilônia? Egito? Mesopotâmia? Todos eles eram ricos e tinham grandes cidades. Por que motivo tinha de ser logo em uma ilha isolada de pastores gregos? Eles não eram ricos. A China tinha uma tradição em ciencias maior do que qualquer outro, tinha inventado o papel, impressão, foguetes, relógios, seda, porcelana, etc. Alguns dizem que a China acabou se tornando extremamente tradicionalista e contra inovação. E a Índia, local dos verdadeiros gênios da matemática? Alguns dizem em um rígido fascínio pela ideia de um universo de antiguidade infinita, condenado a ciclos de morte e renascimentos. E os maias e astecas? Alguns dizem que ele não tinham apitidão para mecânica, nem roda tinham, mesmo tendo relógio de Sol e vários outros brinquedinhos legais.

A Jônia é um reino insular, em isolamento do resto do mundo. Com várias ilhas, não existia um sistema político centralizado, logo, a livre investigação tornou-se possível. Eles também não estavam no centro do comércio ou da civilização, estavam na beirada, bem afastados. Mas, mesmo assim, foi na Jônia que o alfabeto fenício foi primeiramente adaptado para ser usado pelos gregos, o que realizou uma difusão do letramento, por falar nisso os fenícios são um povo tão interessante quanto e falaremos sobre eles em um atigo mais para frente. Pode parecer pouca a influência do letramento, mas muitos historiadores falam como o letramento realizado pelos cristãos, alguns séculos mais tarde, ajudou os povos em seu desenvolvimento. Aconteceu o mesmo aqui, a língua não era mais um monopólio, todas as pessoas agora estavam disponíveis para refletir livremente e debater. O poder político estava nas mãos dos mercadores, que promoviam o desenvolvimento da tecnologia, para aumentar a produtividade. Foi justamente nessa região que civilizações africanas, asiáticas e europeias, entre elas as grandes culturas do Egito e Mesopotâmia, se encontraram e fertilizaram num confronto de preconceito, ideias, e deuses. Vários daqueles deuses reivindicavam territórios iguais, isso gerava guerras. Assim surgiu a ideia do respeito pelos deuses, e da busca das leis que regem a natureza, entender qual é de fato a verdade. Isso, obviamente, não aconteceu em todo o planeta, somente na região dos Jônios, e olhe lá.

Talvez, com tempo, as outras civilizações de todo o mundo, teriam descoberto a ciência, a ideia de tentar entender o mundo como ele de fato é por meio do método científico. Os Jônios sem tudo foram na frente, mas talvez com mais mil anos os Maias acabariam criando rodas de debate harmônico sobre questões científicas.

Essa gigantesca, talvez a maior, revolução no pensamento começou entre 600 e 400 a.C., e o elemento-chave foi a mão. Sim, a mão. Alguns dos brilhantes pensadores jônios, a maioria deles, eram filhos de marinheiros, agricultores e tecelões. O trabalho deles era braçal, diferentemente dos pensadores gregos que, filhos de ricos, rejeitavam esse tipo de trabalho, o trabalho braçal era humilhado em toda a grecia. Os jônios não, eles rejeitavam superstições e faziam maravilhas. Infelizmente, não temos a história toda, como vocês veram mais à frente, temos apenas uma parte pequena da história e das descobertas. As principais figuras dessa revolução eram homens com nomes gregos, muitos não conhecem, mas eles foram a base para o desenvolvimento científico e político de nossa civilização.

O primeiro cientista de fato foi Tales de Mileto, ele é mais conhecido. Nasceu em Mileto, cidade da Ásia, do outro lado do canal da ilha de Samos. Tinha viajado pelo Egito, e estava a par do conhecimento da Babilônia. Consta que previu um eclipse solar. Aprendeu a medir a altura de uma pirâmide a partir do comprimento de sua sombra e do ângulo do Sol em relação ao horizonte, método que hoje é utilizado para medir o tamaanho das montanhas da Lua. Foi o primeiro a demonstrar teoremas do tipo demonstrado por Euclides, três séculos depois. Há também uma evidente continuação do esforço intelectual de Tales e Euclides à aquisição, por Isaac Newton, no livro Elementos da geometria. Tales tentou entender como o mundo funcionava sem invocar nenhuma divindade. Os babilônios, por exemplo, acreditavam que tudo era feito de água. Para explicar a terra seca, acrescentaram a ideia de que Marduk, seu deus, tinha colocado um tapete na superfície da água e amontoado sugeira sobre ele. Tales teve uma ideia quase igual, mas deixou Marduk fora disso. Ele de fato achou que tudo era formado por água, mas concluiu que os oceanos foram formados por um processo natural. Ele estava errado, mas o que realmente importa é sua tentativa de entender o mundo atravez de leis e processos naturais. Ele trouxe ao mundo antigo a semente do fruto que criaria a ciência em toda nossa civilização. Não sabemos quase nada de sua vida, ela tem um impacto hoje mas não sabemos qual. Ele de fato mudou os povos antigos, olha o que Aristóteles, muito mais conhecido e veio bem depois, disse sobre Tales em seu livro Poítica:

"Tales era repreendido por sua pobreza, que seria uma demonstração de que a filosofia não tinha utilidade. Conta a história de que ele sabia, por discernimento próprio [ao interpretar os céus], quando ainda estava no inverno, que haveria uma grande colheita de olivas no ano seguinte; assim, como tinha um pouco de dinheiro, fez depósitos para garantir o uso de todas as prensas de azeitonas em Quilos e em Mileto, que arrendou a baixo preço, já que ninguém concorria com ele. Quando chegou a época da colheita e as prensas foram necessárias todas de uma vez só, ele as alugou pelo preço que quis e fez muito dinheiro. Demonstrou assim ao mundo que filósofos poderiam ficar ricos com facilidade, sem o desejassem, mas que sua ambição é de outro tipo."

Tales de Mileto cara Imagem de Tales de Mileto

Tales também teve um destaque na política, conseguindo convencer os mileisanos a resistir à assimilação sob Creso, rei da Lídia.

Anaximandro de Mileto foi amigo e parceiro de Tales. Ele foi uma das primeiras pesssoas que, pelo que se sabe, realizou um experimento científico. Ao examinar a sombra que o Sol faz em um bastão vertical, pode medir com precisão a duração do ano e das estações, não me pergunte como. Durante millhares de gerações antes e depois, homens usavam bastões para atacar outros. Anaximandro usou par amedir o tempo. Foi a primeira pessoa da Grécia a fazer um relógio de Sol, um mapa do mundo conhecido, e um globo celestial que mostrava as figuras das constelações. Ele acreditava que a Lua, o Sol e as estrelas eram feitas de fogo, vsito atravéz do orifício que se moviam, no domo do céu, talvez uma ideia muito mais antiga, o que é conhecido como terraplanismo conteporâneo. Ele sustentava o conceito de que a Terra não se encontrava suspensa nos céus, ou suportada por ele, mas que se mantinha por si mesma no centro do unvierso; como estava equidistante de todos os lugares da 'esfera celestial', não havia uma força que pudesse movê-la.

A parte mais incrível é que ele apontou que somos tão impotentes ao nascer que, se os primeiros infantes humanos tivessem chagado ao mundo por si mesmos, teriam morrido de imediato. Anaximandro concluiu daí que os seres humanos provinham de animais cujas crias eram mais autossuficientes ao nascer: propôs que havia origem espontânea de vida na lama e que os primeiros animais tinha sido peixes cobertos de espinhos. Alguns descendentes desses peizes tinham mais tarde abandonado as águas e ido para terra seca, onde evoluíram para outros animais com transmutações de uma forma para outra. Acreditava haver um número infinito de mundos, todos desabitados e sujeitos a ciclos de dissolução e regeneração. Não, eu não estou falando de Darwin nem Russel, nem de ninguém do século 5 ou 6, estou falando de um cara em aproximadamente 500 a.C. E eu não conhecia ele, provavelmente você também não.

Por volta de 540 a.C., na ilha de Samos, ascendeu ao poder um tirano chamado Polícrates. Parece que começara como fornecedor de alimentos e depois passara para pirataria internacional. Foi um patrono generoso das artes, ciência e engenharia. Mas oprimia seu próprio povo, guerreou com seus vizinhos, tinha um grande medo de invasões, com razão. Assim, cercou sua capital com uma muralha maciça, com cerca de seis quilômetros de extensão, cujas ruínas existem até hoje. Para transportar água de uma fonte distante passando pelas fortificações, ele ordenou a construção de um grande túnel. Com um quilômetro de comprimento, ele atravessa uma montanha. Foram feitas deuas perfurações, uma em cada extermidade, e elas se juntaram no meio quase perfeitamente. O projeto levou cerca de quinze anos para ser completado, um legado de engenharia civil da época e uma indicação da extreordinária capacitação técnica dos Jônios. Porém, isso também tem um lado triste: esse empreendimento foi contruído por escravos amarrados, muitos capturados pelos navios de Polícrates.

Isso aconteceu no tempo de Teodoro, mestre-engenheiro da época, a quem os gregos creditaram a invenção da chave, da régua, do esquadro de carpinteiro, do nível, do torno, da fundição em bronze e da calefação central. Por que motivo não existe uma estatua em homenagem a esse cara?

Os que falavam e especulavam sobre as leis da natureza falavam com os tecnólogos e engenheiros. Com frequência, eram a mesma pessoa. Teoria e prática eram a mesma coisa. Mais ou menos na mesma época, nas proximidades da ilha de Cós, Hipócrates estava firmando sua famosa tradição na medicina, hoje lembrada apenas no juramento que leva seu nome. Era uma escola de medicina prática e afetiva, que, insistia Hipócrates, teria de se basear no que na época equivale à física e química. Mas tinha também seu lado teórico, em seu livro, Sobre a medicina antiga, escreveu: "Os homens pensam que a epilepsia é divina só porque não a compreendem. Mas se chamassem de divino tudo que não compreendem, as coisas divinas não teriam fim."

Com o tempo, a influência jônica e o método experimental espalharam-se para todo o território da Grécia, para a Itália, a Sicília. Houve um tempo em que quase ninguém acreditava em ar, pensavam que a respiração se dava pelo vento que se dava pela expiração dos deuses. Porém, a noção de ar como uma substância estática, material, mas invisível, era inimaginável. A primeira experiência registrada realizada com o ar foi realizada por um médico chamado Empédocles, que atuou por volta de 450a.C. Alguns relatos alegam que ele se identificava como um deus, talvez as pessoas apenas o consideravam um deus pelo seu conhecimento e habilidade, mas os médicos são bem famosos, pelo menos na minha terra, por serem arrogantes. Ele acreditava que a luz viajava muito rápido, mas não numa velocidade infinita, pensava que outrora havia tido uma variedade muito maior de espécies na Terra, mas que muitas raças desses seres "devem ter sido incapazes de gerar e continuar seu tipo de vida. Pois no caso de toda a espécie que existe, ou força, ou coragem ou rapidez desde o início de sua existência a protegeu e preservou". Nessa tentativa de explicar a bela adaptação de organismos a seus meio ambientes, Empédocles, Anaximandro e Demócrito(veremos a seguir) conseguiram claramente anteceder alguns aspectos da ideia da evolução e seleção natural, isso não é mentira e foi realido em séculos antes de Cristo. (infelizmente Tales ficou de fora dessa lista)

Empédocles realizou seu experimento, o primeiro utilizando ar, com um dispositivo caseiro que as pessoas já usavam a séculos chamado "ladrão de água", que era utilizada como uma concha de cozinha. Enche-se uma esfera de latão com um gargalo aberto e pequenos orifícios no fundo mergulhando-a na água, se puxada para fora com o gargalo descoberto, a água escorre pelos orifícios, formando um pequeno chuveiro. Mas se, ao retira-la da água, se tapar o gargalo com o polegar, a água fica retida na esfera até se tirar o polegar. Se tentar enchê-la mergulhando-a com ogargalo tampado, nada acontece. Para simplificar, tente realizar os passos a seguir em dua mente mas usando uma garrafa de coca-cola com furinhos em baixo. Deve haver alguma substância a caminho da água. Sem dúvida não podemos enxerga-la. Empédocles alegou que seria o ar. Ele estava certa, havia descoberto o invisível, pensou que o ar deveria ser uma substância tão finamente dividida que não podia ser vista.

Conta-se que Empédocles morreu de modo bem apotético saltando do topo da cratera do grande vulcão Etna dentro da lava quente. Talvez ele tenha simplesmente escorregado durante uma corajosa e pioneira expedição de geofísica observacional.

Esse indício, esse pequeno cheiro da existência de átomos, considerando que Empédocles descobriu a existência de um substância invisível e indivisível, foi tudo levado adiante por um grande homem chamado Demócrito, oriundo da colônia jônica de Abdera, no norte da Grécia. Abdera era o tipo de cidade sobre a qual se contam anedotas. Se em 430 aC. você contasse uma história sobre alguém de Abdera, com certeza provocaria risadas. Ela era, de certo modo, o Brooklyn dos anos 90. Para Demócrito, tudo na vida se destinava a ser aproveitado e compreendido: compreenção e curtição eram a mesma coisa para ele. Ele disse que "uma vida sem festividades é uma longa estrada sem um Albergue". Demócrito podia ser de Abdera, mas não era nem um pouco imbecíl. Acreditava que um grande números de mundos haviam se formado espontanemanete de matéria difusa no espaço, evoluiu e depois decaiu. Numa época em que ninguém sabia de crateras de impacto, Demócrito pensava que os mundos às vezes colidem entre si; acreditava que alguns mundos vagam solitários pela escuridão do espaço, enquanto outros tinham a companhia de vários sóis e várias luas; que alguns mundos eram habitados, enquanto outros não tinham plantas nem animais, nem mesmo água; que as formas mais simples de vidahaviam surgido de um tipo de limo primordial. Pensava que a percepção - o motivo, digamos, de eu pensar que há uma caneta em minha mão - era um processo puramente físico e mecânico; que pensamento e sentimento eram atributos de matéria reunida de um modo bastante acurado e complexo, e não devido a algum espírito infundiddo na matéria pelos deuses.

Demócrito inventou a palavra átomo, "indivisível" em grego. Átomo eram partículas finais, que frustariam eternamente nossas tentativas de parti-las em fragmentos menores. Tudo, disse, é uma coleção de átomos reunidos de maneira intrincada. Até mesmo nós, ele disse, "Nada Existe, a não ser átomos e o vazio". Quando cortamos uma maça, a faca deve passar por espaços vazios entre átomos, argumentou Demócrito. Se não houvesse espaços vazios, a faca esbarraria em átomos impenetráveis e não conseguiria cortar. Cortada uma fatia do cone, comparemos as seções de cortes das duas peças. As áreas expostas são iguais? Não, diz Demócrito. A inclinação do cone faz com que um dos pedaços tenha um superfície de corte um pouqinho menor do que o outro. Se as duas áreas fossem exatamente iguais, teríamos um cilindro, não um cone. Não importa quão afiada seja sua faca, as duas peças terão seções de corte com áreas desiguais. Por quê? Porque, na escala muito pequeno, a matéria exibe uma irredutível aspereza. Demócrito identificou essa dina escala de aspereza com o mundo dos átomos. Seus argumentos não eram os mesmos que usamos hoje, mas eram sutis e elegantes, derivados de vida cotidiana. E suas conclusões estavam em essência corretas.

Num exercício, Demócrito imaginou calcular o volume de um cone ou uma pirâmide considerando-os como um número muito grande de placas empilhadas que vão diminuindo de tamanho à medida que se afastam da base em direção ao vérticie. Com isso,tinha enunciado um problema que é chamado teoria dos limites. Ele estava batendo na porta do cálculo diferencial e integral, que só foram resolvidos por Newton, mais de mil anos depois. Se a obra de Demócrito não tivesse sido destruída(veremos a seguir), existiria o cálculo na época de Cristo. Thomas Wright escreveu, em 1750, sobre o fato de Demócrito considerar que a Via Láctea tenha sido formada principalmente por estrelas ainda não resolvidas: "muito antes de a astronomia colher qualquer benefício do progresso da ciência e da óptica; [ele] enxergou, digamos assim, com o olho da razão, indo tão longe no infinito quanto os mais aptos astrônomos, em épocas mais propícias, têm tido desde então". Na esfera pessoal Demócrito era incomum, ele valorizava a amizade, sustentava que a alegria era o objetivo da vida e dedicava uma importante investigação filosófica à origem e natureza do entusiasmo, porém tinha alguns problemas com mulheres e crianças, segundo ele isso o atrapalhava e tirava seu tempo dos estudos. Fez uma viagem até Atenas para visitar seu amigo Sócrates e lá sentiu que era tímido demais para se apresentar a ele. Era amigo chegado de Hipócrates. Ficava deslumbrado com a beleza e elegância do mundo físico. Para era uma pobreza em uma democracia era preferível à riqueza em uma tirania. Acreditava também que as religiões de seu tempo eram malignas e que: "Nada existe, a não ser átomos e vazio. "

Não existem registros que Demócrito tenha sido perseguido por suas opiniões, contudo, em sua época, a breve tradição de tolerância com ideias não convencionais começou a se erodir e despedaçar. Pessoas começaram a ser punidas por terem ideias incomuns. A cédula grega de cem dracmas ostentava a imagem de Demócrito, mas seus insights foram suprimidos, seua influência na história foi diminuída.

Anaxágoras foi um experimentalista jônico que vicejou por volta de 450 a.C. e viveu em Atenas. Era rico e apaixonado por ciência. Ao lhe perguntarem qual era o propósito da vida respondeu: "A investigação do Sol, da Lua e dos céus", o que um astrônomo falaria. Ele realizou um experimento inteligente no qual demostrou que uma gota de líquido branco, como creme, não clareava de maneira perceptívelo conteúdo de um grande jarro com um líquido escuro, como vinho. Ele concluiu que existem mudanças dedutíveis atravéz de experimentos que são sutis demais para serem percebidos pelos sentidos. Anaxágoras não era nem de longe tão radical quanto Demócrito, ambos consideravam que apenas a matéria sistentava o mundo. Achava que a mente era feita de um material aparte e não acreditava em átomos. Pensava que os seres humanos eram mais inteligentes que os outros por causa das mãos, ideia bem jônica. Desenvolveu uma teoria das fases da Lua e declarou que a Lua brilha com luz refletida, ele teve que publicar em segredo para não ser punido. Aristóteles, que viveu duas gerações mais tarde, disse que é somente a natureza da Lua ter fases e eclipses, sem tentar entender nem explicar nada como fez Anaxágoras. Anaxágoras aceditava que o Sol e as estrelas eram pedras ardentes bem distantes, também achava que a Lua tinha montanhas e era habitada. Ele achava que o Sol era imenso, maior que o Penopolenso, terça parte da Grécia. Seus críticos achavam que ele havia exagerado no tamanho. Hoje sabemos que o Sol é milhares de vezes maior que a Terra.

Ele foi trazido para Atenas por Péricles, o ditador que foi o líder durante a maior glória de Atenas assim como o homem que acabou com a democracia em Atenas, por causa da guerra do Penopolenso. Péricles era bem culto e gostava de todas as ciências. Há quem diga que Anaxágoras contribiu de maneira vital para o sucesso e prosperidade de Atenas, isso porqe ele era um dos mais confidentes do rei. Ele era muito poderoso para ser atacado de frente, então atacavam seus aliados. Anaxágoras foi condenado pelo crime religioso de impiedade - por achar que a Lua era feita de material ordinário, e que o Sol era uma pedra quente e vermelha no céu. O bispo John Wilkins fez um comentário, em 1638, sobre esses atenienses: "Aqueles zelozos idólaltras [consideran] uma grande blasfêmia fazer de seu deus uma pedra, conquanto eles, não obstante, fossem tão incoerentes em sua adoração de ídolos, ao fazer de uma pedra se deus". Péricles conseguiu soltar Anaxágoras, mas já era tarde, a maré havia mudado na Grécia, mesmo que a tradição jônica ainda tenha durado mais duzentos anos no Egito, na cidade de Alexandria.

Os grandes cientistas Tales, Demócrito e Anaxágoras são chamados filósosfos pré-socráticos, como se sua principal função fosse sustentar a fortaleza filosófica até o advento de Sócrates, Platão e Aristóteles, e talvez incluenciá-los um pouco. Na verdade os antigos jônios representam uma tradição diferente e bastante questionadora, muito mais compatível com a ciência moderna. O fato de sua influência ter durado apenas 2 séculos demonstra uma perda irreparável de vidas, qualidade de vida e muito mais para TODAS as pessoas que viveram entre o Despertar Jônico e a Renascença italiana. Talvez a pessoa mais influente entre todas associadas a Samos tenha sido Pitágoras, falaremos dele em outro artigo, ele vai ser uma continuação e será importante você ler para aumentar seu entendimentos sobre o assunto.

Veja o artigo a seguir: Pitagóricos

Fonte: Cosmos, Carl Sagan(livro)

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